Motocross Solidário
Depois da chuva que alagou a cidade e encheu casas e ruas de lama, Nova Friburgo (RJ) transformou-se em um enorme pista de motocross solidário. Motos off-road podem ser vistas por todos os lados, indo e vindo em alta velocidade numa eterna viagem de ajuda e resgate. No alto da encosta, em bairros isolados, onde nenhum carro chega, lá estão elas transportando comida, água, medicamentos e vacinas.
As corridas de motocross costumam acontecer em terrenos molhados e em trilhas no meio da mata, com pilotos focados em ultrapassar seus limites. O que ninguém imaginava é que o impressionante mesmo seria o sucesso desses voluntários no resgate das vítimas da maior tragédia natural da história do Brasil. Eles agora trabalham dia e noite e superando limites que nunca puderam experimentar.
“Só com moto de trilha para cruzar a estrada com esse barro todo, para subir barranco. Cheguei até São Geraldo, Córrego Dantas, Floresta, Campo do Coelho [bairros gravemente afetados e de difícil acesso], onde a situação estava mais precária. Tudo que solicitam, a gente leva. Veja, eu tinha a moto para esportes radicais e agora ela virou um utilitário para ajudar os outros”, disse Edson Boi Câmara, 31.
“Elas ajudam muito. Consegui chegar até locais onde nem os bombeiros conseguiram. Além de levar os donativos, a gente traz os doentes na garupa quando precisa”, completou o agricultor Fernando Lima, 30, que costuma usar a moto para fazer trilhas durante o final de semana. “Comprei para diversão e nunca pensei que iria usar em uma situação dessas”, disse.
Lima explicou que os moradores também compram as motos off-road para ajudar a percorrer fazendas, mas gostam mesmo é de se aventurar pelos caminhos tortuosos e cheios de cachoeiras que levam às cidades vizinhas da serra. São cerca de 2.000 trilheiros na região.
“A gente costuma fazer trilha de rally até Sumidouro, Bom Jardim, Teresópolis”, explicou Cristiano Siqueira, 23, que também estava ajudando como voluntário usando sua moto XR. “Vou todos os dias até Duas Pedras [bairro da zona norte da cidade onde houve muitos deslizamentos], porque tem um amigo meu que foi soterrado ali com quatro pessoas da família dele. A laje caiu na casa e desde então a gente não tem notícias. Como ali não chega de carro, vou com a minha moto”.
A moto também ajuda a fugir dos congestionamentos que se formam por conta da grande quantidade de carros levando donativos, policiais e militares circulando e caminhões transportando detritos. Algumas vias também estão parcialmente bloqueadas e o que obriga o fluxo de carros a afunilar em meia pista. “Nesses dias, eu nem tirei o carro da garagem. Só circulo de moto”, afirmou Siqueira.
Outro que seguia em direção ao bairro do Vieira para tentar encontrar uma família desaparecida era o motociclista Márcio de Oliveira, 31. Ele contou que pratica trilhas há nove anos, mas acha que agora os caminhos estão “acabados”. “Houve muitos deslizamentos e quedas de barreiras. Deve ter fechado tudo”, lamentou.
Fonte: Matéria do site UOL, feita pela Fabiana Uchinaka.
Fonte: http://www.rockriders.com.br